Como a análise de redes pode medir o desempenho urbano?
Como medir se os serviços públicos atendem todas as partes de uma cidade de modo eficiente? Recentemente, a empresa 300.000 km/s. em conjunto com a administração pública de Barcelona, publicou o site BcnCentralitats.
Essa plataforma contém mapas resultantes de análises de redes urbanas indicando o quão fácil é possível alcançar cada tipo de serviço público – escolas, comércios, equipamentos culturais ou de lazer – a partir dos diferentes pontos da cidade.
Análise de acessibilidade a equipamentos de educação infantil. (Fonte: plataforma BcnCentralitats)
A aplicação de análises de redes a estudos urbanos não é algo novo, tendo como trabalho seminal a publicação The Social Logic of Space, escrita por Bill Hillier e Julienne Hanson em 1984. Nela, os autores demonstraram que a forma da cidade é um elemento fundamental para aproximar ou afastar as pessoas dos atrativos urbanos e para determinar o percurso delas na cidade.
A representação da cidade como uma rede permite que tais aspectos sejam quantificados em métricas espaciais, indicando quais regiões estão melhor localizadas e o quanto a acessibilidade de outras áreas precisa melhorar para chegar em tal nível.
Da forma como foram utilizadas em Barcelona, as análises de rede demonstram potencial para também servir como instrumento de monitoramento das cidades em tempo real, como proposto por Alain Bertaud – em seu livro Ordem sem Design – que argumenta sobre a necessidade de fundamentar políticas públicas em indicadores objetivos, de modo que a atuação da administração pública seja guiada por métricas concretas.
Os resultados apresentados pela BcnCentralitats podem satisfazer tal demanda, pois, além de representar graficamente de forma clara o fornecimento de serviços públicos, configuram análises relativamente simples de serem executadas e atualizadas periodicamente, visto que necessitam apenas de dados geralmente disponibilizados abertamente, como população, idade e localização de serviços.
Por fim, as análises de rede podem fornecer insights que contrariam o senso comum sobre a configuração urbana de uma localidade. Em um trabalho de consultoria realizado pelo Instituto Cidades Responsivas, foi verificado que uma parte do município analisado, apesar de estar a 2,5 km do centro da cidade, apresentava valores de acessibilidade a serviços urbanos abaixo da média.
Ao aprofundar o estudo, foi constatado que tal fenômeno ocorre devido ao desenho urbano da região que, devido a bloqueios causados pela topografia e por áreas de preservação ambiental, exigia desvios nos percursos de pessoas e veículos, aumentando a distância percorrida para se alcançar as outras partes da cidade.
A partir dessa observação, foi possível demonstrar que havia uma oportunidade de inserção de novos equipamentos na área analisada, os quais poderiam se aproveitar da falta de acessibilidade a serviços averiguada nas análises para o local.
Portanto, devido à facilidade de implementação e ao potencial de fornecer resultados reveladores, as análises de rede podem constituir uma primeira etapa da implementação de um sistema de monitoramento do desempenho de cidades em relação à eficiência no fornecimento de serviços públicos.
Texto de autoria de Guilherme Dalcin, originalmente publicado no Caos Planejado em 28 de novembro de 2023. Confira o texto original aqui.
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